quinta-feira, 7 de agosto de 2008


SÍNDROME DE PETER PAN

Hebreus 5:11- 14
"Temos muito o que dizer a respeito desse assunto; mas, porque vocês custam a entender as coisas, é difícil explicá-las. Depois de tanto tempo, vocês já deviam ser mestres, mas ainda precisam de alguém que lhes ensine as primeiras lições dos ensinamentos de Deus. Em vez de alimento sólido, vocês ainda precisam de leite. E quem precisa de leite ainda é criança e não tem nenhuma experiência para saber o que está certo ou errado. Porém a comida dos adultos é sólida, pois eles pela prática sabem a diferença entre o que é bom e o que é mau".


Peter Pan é o nome do personagem dos contos de fadas que queria ser criança para sempre. A simples idéia de vir a ser adulto um dia o paralisava de forma aterrorizadora!

Peter Pan tinha muito medo de tudo. Medo do novo, medo do futuro, do desconhecido, tinha medo de errar, de fracassar, medo de ser feliz, medo de arriscar...Peter Pan tinha medo de crescer!

Para ele, ser criança era infinitamente mais fácil, por isso, decidiu que era assim que queria ficar para sempre...criança - sem se preocupar com todas essas coisas com as quais os adultos se preocupam, porque a criança tem o consciente que é o seu HD, seu banco de memórias, mas ela não tem a consciência para discernir o certo ou errado, verdade ou mentira, realidade ou fantasia.

Assim, toda informação, percepção, descobertas, tudo que a criança recebe vai para seu arquivo e ela vai tentar realizar tudo que desejar, independentemente de ser certo ou errado - criança não tem esta noção. Os adultos ao seu redor é que farão o papel inicial de consciência da criança, principalmente, é claro, os pais e as pessoas que são importantes para ela, que estarão sempre lhe dizendo: isso não...isso não pode...não faça isso...se fizer vai apanhar...vai ficar de castigo...Jesus não gosta...Papai do céu briga...e assim por diante.

No texto bíblico acima, Paulo identificou a presença de uma síndrome de Peter Pan, um grau muito elevado de criancice em nossos irmãos hebreus - eles teimavam em não crescer!

O contexto nos fala de um povo que não usou o tempo de forma vantajosa, visando o aprendizado e o progresso. Alguns estudiosos da Bíblia asseguram que Paulo enviou esta carta a uma segunda geração de cristãos, e que muitos deles eram crentes no mínimo uns trinta anos na igreja da Palestina.

Porém ao invés de já serem mestres, continuavam sendo aprendizes, dependentes, medrosos e infantis no entendimento, no conhecimento e na percepção espiritual. Liam somente as mesmas coisas, não questionavam, não saíam do "beabá", não cresciam.

Então, quando Paulo percebe aquele povo “estacionado no tempo” envia uma carta que a gente poderia resumir em uma frase...como a frase de um mestre chamando atenção de seus discípulos: “deixem de ser preguiçosos e tratem de crescer seus moleques! Enquanto vocês se comportarem assim como crianças não poderão receber alimento sólido, ou seja, ensinamento mais profundo...vão ficar tomando leitinho que é o alimento dado às crianças, sendo que vocês já não são mais crianças. O tempo que vocês têm de conversão já seria suficiente para estarem ensinando doutrinas fundamentais e profundas da fé cristã”.

O receio de Paulo era que, sem conhecimento das Escrituras o povo se deixasse levar por ventos de doutrina e apostatasse, se desviasse dos ensinamentos de Cristo Jesus. Este foi o motivo principal do envio desta carta.

Um conhecido psicólogo suíço chamado Jean Piagett, desenvolveu um método para identificar o que a criança entende por certo e errado, sobre o que é permitido e o que é proibido.

Ele saía pelas ruas de Genebra, aproximava-se de crianças que brincavam com bolinhas de gude e fazia três perguntas:
  • que idade você tem?
  • como é que se joga bola de gude?
  • como é que você sabe que esta é a maneira certa de jogar?

Piagett descobriu três estágios da compreensão infantil:

1º) As crianças mais novas não questionam regras. Elas pensam: “é assim que se joga e pronto”. Não passa pela cabecinha delas uma coisa diferente...é aceitando as regras e obedecendo que elas se sentem seguras e parte do sistema. Regras são regras para a criança. (quem é mãe e pai de filhos que já cresceram sabe bem disso – quando diziam façam isso, e elas faziam...não façam isso, e elas não faziam).

2º) À medida que crescem e se aproximam da adolescência, Jean Piaget descobriu que as crianças começam a questionar as regras, ou seja, começam a questionar qualquer tipo de autoridade. Elas pensam: “quem é este adulto que diz que tem de ser assim? O jogo é nosso; por que não fazemos as regras que queremos?"

E elas fazem isso. Entram numa fase irresponsável, inventando regras bobas, ora fazendo o jogo se tornar fácil demais, ora difícil demais, impossível até de se jogar...até descobrirem que elas têm poder para reinventar as regras de um jeito que o jogo não perca a emoção e permaneça razoável. (quem é mãe e pai de filhos que são ou já foram adolescentes sabe bem disso – do tempo em que nossos filhinhos aceitavam tudo o que a gente dizia sem questionar. A adolescência é uma etapa que muitos pais gostariam de pular...piscar os olhos e já ter passado...mas não há como evitá-la – faz parte do processo de amadurecimento, todo ser humano passa por ela.)

3º) Então em um terceiro estágio da evolução da criança, segundo Piaget, ela se encontra na fronteira da maturidade e começa a compreender que:

- regras não vêm de “cima” / regras são feitas por gente como elas / regras foram testadas e aprovadas aos longo do tempo e podem ser modificadas por gente como elas /podem participar da responsabilidade de examinar e estabelecer limites, regras que sejam justas para todos, de forma que seja gostoso jogar, viver numa sociedade justa e igualitária. E elas acreditam de fato nisso, que podem mudar as coisas.

O adolescente não tem mais tanto interesse em ser considerado um filho bonzinho, ele não se importa muito com a opinião dos adultos a respeito de seu comportamento e então começa a fazer bobagens com o jogo da vida...começa a violar as regras, os limites...o adolescente faz coisas loucas com o próprio corpo, as vezes se machucando e machucando os outros. Quer saber até que ponto dá pra chegar sem regras, e a idéia que tem de liberdade é: rejeitar bons conselhos / não dar ouvidos aos pais / rejeitar qualquer figura de autoridade. Finalmente, se tivermos sorte, os adolescentes crescem e se transformam em adultos responsáveis; homens e mulheres cuja própria noção de bom terá mais significado que a o obediência...quando ser bom corresponde a examinar e ajustar, arrumar as regras, se comprometer usando o próprio poder no interesse da justiça.

Nosso relacionamento com Deus também passa por esses estágios - e estes devem ser respeitados, devem ser vivenciados, porém não podemos demorar tempo demasiado em nenhum deles.

- De início Deus era percebido como um monarca absoluto, rei dos reis. Ele nos dizia como viver... através da obediência nós demonstrávamos que éramos pessoas boas, vivendo de acordo com Sua palavras, e Ele nos recompensava pela obediência cega e nos punia se fôssemos servos infiéis. Nunca precisava dar explicações, apenas decretava e o povo obedecia.

- Depois disso, vem um tempo de questionamentos do direito divino de Deus e, se nessa fase não acontecer rebelião contra Deus, e se os questionamentos não levarem as pessoas a se machucarem e até morrerem afastando-se dEle, essas pessoas acabam entrando no estágio adulto de filhos e amigos de Deus, crescidos e amadurecidos e como diz o vs. 14 do texto, “...sabendo a diferença entre o que é bom e o que é mau”.

Nos países onde tudo é controlado pelo governo, as pessoas vivem sob medo constante das autoridades. São menos morais, menos maduras e mais infantis.

Isso nos leva a pensar que a obediência não pode andar sozinha e não pode ter um fim em si mesma. Na verdade ela não pode ser cega...ela precisa enxergar e bem o que está obedecendo, para que a espiritualidade não seja adoecida.

Existem alguns problemas sérios com a obediência cega:

- Algumas pessoas podem revelar uma obsessão frenética pelo pecado. Tudo e qualquer coisa é pecado...o demônio está em tudo e em todos;


- Sentem um medo constante de ter descumprido alguma regra e ter ofendido a Deus, perdendo por isso o amor do Pai celestial;


- Algumas pessoas mostram a seguintes atitude:“agora Deus vai ver como sou bom e merecedor e então vai me amar e me abençoar”.

Essas atitudes revelam uma espiritualidade incompleta, distorcida e impossibilitada de crescer, e o resultado disso pode ser uma criança querendo falar e agir através do nosso corpo jovem ou adulto - um adolescente querendo falar e agir através do nosso corpo adulto, ou ainda uma criança querendo falar e agir através do corpo adolescente.

Já a verdadeira espiritualidade:

a) Estimula a crescer. O Apóstolo Pedro nos ordena em sua II carta 3:18 “cresçam porém na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”.


b) Não nos mantém em submissão e dependência infantis, dizendo o que devemos fazer em troca de gratidão e obediência.


c) A verdadeira espiritualidade não obedece a Deus por medo, porque agindo assim serve de má vontade e sem integridade, ou seja, não serve por inteiro. O medo é negativo, constrangedor e a tendência é a gente odiar quem nos faz sentir medo. Temer a Deus não significa ter medo.

Deus é maior que nós, ele causa admiração e respeito. Piaget descreve assim essa situação de reconhecimento da grandeza divina: “chegar à beira de um precipício e olhar para baixo dá medo, e o único sentimento que temos é o de escapar da situação, tão rápida e seguramente quanto possível. Ficar de pé em segurança no alto de uma montanha e olhar à nossa volta e sentir reverência...poderíamos ficar ali para sempre!”.

João 17:3 diz assim: “e a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”.

O conhecimento espiritual, o exercício da verdadeira espiritualidade é que fará com que a gente cresça na graça e no conhecimento de Cristo Jesus.

Alguns princípios que aprendemos com o Apóstolo Paulo no exercício de sua espiritualidade:
1ª) Conhecer Deus é reconhecer a validade de seus mandamentos e obedecê-los. Esse conhecimento é ético e prático, e não essencialmente místico. Não se trata de um conhecimento que nos seja útil apenas nas nossas reuniões e cultos, mas sim um conhecimento aplicado à vida, ao nosso dia a dia.

2ª) Deixar que esse conhecimento libere o poder capaz de causar uma transformação ética em nós - que é o culto racional do qual Paulo fala em sua carta aos Romanos..."não mos moldeis aos padrões do mundo, mas transformai-vos pela renovação das vossas mentes". A santidade resulta de uma real transformação em nossa natureza e, quanto mais santos nos tornamos, mais ficamos parecidos com Cristo em Sua natureza.

3ª) Poucos homens passam pela experiência de contemplar Deus em visões, porém se servirmos ao próximo, movidos pelo amor, estaremos servindo a Deus, e assim nossa qualidade espiritual é aprimorada e chegamos a “conhecer Deus” de maneira bem real.

4ª) O intelecto também desempenha um papel no conhecimento de Deus. A razão nos foi dada para guiar-nos espiritualmente. A intuição também tem parte nisso, pois há um conhecimento intuitivo que transcende a razão. Existem também as experiências místicas, através das quais a alma vai até Deus e assim a espiritualidade é aprimorada.

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Vamos acabar com esta Síndrome de Peter Pan que tem nos mantido raquíticos na fé, na graça e no conhecimento de Cristo Jesus? Vamos crescer sem medo no conhecimento de Deus? Medo é sinônimo de insegurança...sendo assim o medo termina quando a segurança vem. A segurança diminui a ansiedade e acalma. A pessoa aprende a aceitar o momento presente com mais tranqüilidade e equilíbrio, para de sofrer por antecipação e não sente mais necessidade de controlar tudo e todos.

Obtemos esta segurança conhecendo e confiando em Jesus, que tem as respostas, as saídas pra vida. Com Ele não sentimos medo, porque aprendemos a confiar na Sua promessa de sempre estar conosco em todos os momentos de nossas vidas, seja enquanto crianças tomando leitinho...seja já crescidos, comento arroz com legumes ou uma feijoada completa, significando o alimento sólido que o vs. 14 diz que: "Porém a comida dos adultos é sólida, pois eles pela prática sabem a diferença entre o que é bom e o que é mau".

Esta é a nossa pregação! Que ninguém a despreze. (Tito 2:15)



4 comentários:

Anônimo disse...

Querida doce guerreira, Pra.Fátima Clara,gostaria de fazer uma louvação ao nosso Deus "teu" criador,por tua vida.Infelizmente,devo confessar-te(pois a Deus já assim o fiz primeiro),acerca de minha lamentável identificação com o texto 'Síndrome de Peter Pan';o des-envolvimento da sua fala a respeito do conteúdo então...me fez..." viajar pelo interior do meu interior"(Vander Lee) e assim chegar a triste conclusão de que estou mais longe do que pensava de Deus e consequentemente, mais próximo do que pensava do meu frágil... e porque não assumir,tão 'criança, eu. Por favor, ajude-me!!Eu preciso nutrir-me do alimento indispensável e necessário, o qual a sua 'despensa' tem fartura...ajude-me!!Você comporta esse dom, ajude-me...caminhe comigo às milhas possíveis e necessárias...Deus te honrará mais e...mais...

Anônimo disse...

Que bom que você existe!

Amo seus escritos! Você é TUDO de BOM!

Mil beijos Pastora!



Jussara Amaral Porto

Paulo Cruz (PC) disse...

Olá, pastora querida!

Finalmente consegui passar detidamente por aqui.

Em terra de cego, toda liberdade se torna vítima de um ego que enxerga. Em tempos de insegurança, toda esperança se torna vítima de íntima vigilância. Em tempos de futilidade indecente, toda identidade se torna vítima da "verdade" mais conveniente.

Sejamos crianças no trato, mas adultos no entendimento.

Um beijo grande,
Paulo.

Anônimo disse...

Como é maravilhoso saber que Deus lhe usa com mensagens tão edificantes para nossos corações. Que Deus continue lhe dando graça, sabedoria e disposição para continuar nos abençoando com tão ricas pérolas. Te amo