sexta-feira, 25 de julho de 2008

Or-ações
Pra. Fátima Nascimento


"Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres". Tg 4:3


Tenho por certo que orações frustradas têm como causa uma íntima relação com automatismos do pensamento, o que leva às armadilhas do reducionismo, e não raras vezes, à idolatria do que se deseja.

Conforme sustenta Humberto Mariotti, e, o que acredito estar em conformidade com o ensino das Escrituras, o reducionismo é como o ego: indispensável, mas questionável. Diante de um determinado fenômeno, nós o percebemos e reduzimos o que foi percebido à nossa estrutura de compreensão — ao nosso conhecimento, portanto.

Mas, como é óbvio, reduzir algo ao nosso conhecimento é o mesmo que reduzi-lo à nossa ignorância. Daí a necessidade de um segundo passo — a re-ampliação — que consiste em conferir o que foi percebido. Fazemos isso comparando-o com compreensões pessoais prévias e, a seguir, comparando-o com a compreensão dos outros, por meio do diálogo e outras formas de interação e convivência. Dessa maneira, procuramos re-ampliar o que havia sido reduzido, o que tende a tornar a oração num espetáculo de simplismo alienado.

Não é por menos que o apóstolo Paulo nos exorta a que não vivamos como vivem as “pessoas deste mundo” (sistema de idéias e valores que se opõem a Deus), mas que deixemo-nos ser transformados por meio de uma completa mudança de nossas mentes - lemos isso em sua carta aos
Romanos, no capítulo 12
, versículo segundo.

Segundo o que aprendemos com a exortação de Tiago o Apóstolo, orar não deve ser apenas um meio de fomentar a ganância. Se uma pessoa conseguir qualquer coisa com esse propósito dúbio, pode ter certeza de que não fora Deus que lhe dera.

Nos dias em que viveu o Apóstolo Tiago, as pessoas haviam perdido completamente o conceito do uso apropriado da oração. Tinham-na transformado em um instrumento da carnalidade. Não viam a oração como um avanço na santidade e bem-estar espiritual. Agiam como se houvesse apenas a dimensão terrena na existência, sem céu e sem Deus. Quando isso ocorre, o próprio Deus é coisificado – vira coisa, objeto, um ídolo.

Essas pessoas aqui dos dias de Tiago eram teístas professos e ateus na prática, porquanto na realidade, imaginavam que Deus não desempenhava qualquer papel vital em suas vidas. Dos seus prazeres tinham feito seus deuses. Eram idólatras da pior espécie.

Não há nada de mal nas orações que pedem prosperidade e o bem estar físico; conforme se depreende de III Jo 2. É bom alguém gozar de boa saúde e estar financeiramente próspero. Porém é mau fazer dessas coisas a finalidade central de nossas vidas. Os leitores originais da epístola de Tiago tinham como alvos verdadeiros de suas vidas a busca pelos prazeres, pelo conforto e pelo poder; e assim não se preocupavam apenas com uma abastança mais razoável. Tinham substituído a dimensão eterna pela temporal; tinham feito da auto indulgência algo mais importante do que cumprir a vontade de Deus, sendo transformados à imagem de Cristo, o que é e deverá ser sempre o alvo de toda a existência. Veja esse conceito nas Escrituras:

- Deus, em toda a sua sabedoria e entendimento, fez o que havia resolvido e nos revelou o plano secreto que tinha decidido realizar por meio de Cristo. Esse plano é unir, no tempo certo, debaixo da autoridade de Cristo, tudo o que existe no céu e na terra.
Ef 1:8-10.

Uma vida consagrada ao serviço de Deus é a melhor oração por bênçãos temporais. A oração feita com espírito ganancioso é como a de um bandido que pede sucesso para os seus assaltos. Aquela gente pedia com propósitos egoístas, para obter os frutos ilegítimos dos prazeres. Essas orações não são ouvidas por Deus.

Quanto ao fato de que Deus ouve as orações de justos e penitentes sugiro a leitura dos seguintes textos:
Sl.34:15-17; 145:18 / Pv. 10:24 / Lc. 18:9 / Tg. 1:6 / IJo 5:14.

O tempo passa, porém os seres humanos continuam os mesmos, desejando abastança financeira para patrocinarem os próprios vícios e prazeres mundanos, a fim de se ocuparem ainda mais diligentemente no ciclo do gozar a qualquer preço. Tais pessoas vêem na oração um meio pelo qual seus prazeres egoístas possam ser obtidos, e seus pedidos incluem qualquer coisa mediante o que sua vontade possa ser satisfeita.

"As pessoas de ontem e de hoje querem fazer de Deus o ministro de suas próprias concupiscências". (Calvino)

Alguém disse que até mesmo as orações dos crentes com freqüência são melhor respondidas, quando seus desejos são menos atendidos.

Em linhas gerais: Se orássemos corretamente, esse senso de contínua sede por coisas mundanas em maior quantidade não existiria. Nossas necessidades apropriadas seriam supridas e, os desejos impróprios que nos lançam no espiral da inveja e intrigas, desapareceriam.

Alguém ainda disse que é grande a misericórdia de Deus quando ele não ouve aos homens que fazem orações injustas.

O homem que já tinha bens amealhados para muitos anos, mas porque ainda os buscava em maiores proporções, esqueceu-se de sua própria alma. (Ver
Lc. 12:19). O rico, que vivia em luxo perverso, não teve tempo de dar atenção a Lázaro, que jazia diante de seu portão. (Ver Lc. 16:19
).

É certo que tendemos a reduzir nossas compreensões às dimensões do nosso ego que é frágil, medroso e teme a re-ampliação. Teme-a porque ela o põe à prova, leva-o a confrontar as suas percepções e entendimentos com os dos outros. Como está preparado para competir, o ego sempre vê os outros como adversários e portanto, sente-se sempre ameaçado por eles. Por isso, pensar segundo modelos predeterminados e buscar apoio em referenciais que julgamos inquestionáveis (pressupostos) tornou-se uma forma de remediarmos a nossa fraqueza. Orações pra remediar nossas fraquezas são absolutamente impróprias.

É um modo de pôr em prática o ponto de vista empiricista, que diz que existe uma realidade externa que é a mesma para todos.

Se essa tese fosse correta, a cognição seria um fenômeno passivo. E assim todos entenderiam o mundo da mesma maneira. Nessa ordem de idéias, quem não percebesse a "verdade" universal estaria com problemas e, portanto, precisaria de ajuda para alcançar o nível de percepção dos outros. Isto é: para perceber as coisas como "todo mundo" — o que equivaleria a entender a vida e pautar a conduta segundo as normas do senso comum. Entretanto, sabemos que percepções padronizadas levam a comportamentos padronizados. Esse é o principal problema da redução não seguida de reampliação.

Nossa tendência a eliminar é mais forte que a necessidade de integrar. Não sabemos ouvir. Quando alguém nos diz alguma coisa, em vez de escutar até o fim logo começamos a comparar o que está sendo dito com idéias e referenciais que já temos. Esse processo mental — que Humberto Mariotti chama de automatismo concordo-discordo — quando levado a extremos é muito limitante. É o que se pode observar claramente na maioria dos programas ditos evangélicos, exibidos no Brasil e em várias partes do mundo.

Penso que agora seja possível resumir alguns dos pontos que podem ajudar na prática da reflexão:

1. A mente faz parte do cérebro; o cérebro faz parte do corpo; o corpo faz parte do mundo. Logo, a mente não é separada do mundo. O chamado cristão é para encarnarmos a realidade sem absolutismos quanto ao temporal.
2. A realidade de um indivíduo é a visão de mundo que sua estrutura lhe permite perceber num dado momento, não seja sábio aos seus próprios olhos - leia a Bíblia e concorde com Deus.
3. Enquanto permanecer apenas individual, qualquer compreensão de mundo será precária. Por isso, é preciso ampliá-la por meio do diálogo com Deus em sua Palavra revelada, no convívio com pessoas sensatas e responsáveis e orações constantes.
4.Quanto mais conversarmos com pessoas sobre nossas percepções e compreensões, melhor. Eis uma boa razão para congregarmos.
5. Quando maior a diversidade de pontos de vista dessas pessoas, melhor ainda.
6. Se uma conversa produzir em nós uma tendência a achar que não ouvimos nada de novo, é bem provável que estejamos na defensiva.
7. É muito importante dar especial atenção aos pontos de vista com os quais mais discordamos e aos comportamentos que mais nos irritam e desafiam, tais como os ensinos da Escritura Sagrada.
8. Não somos obrigados a aceitar ou a concordar com tudo de maneira irrefletida, porém o contato com a diversidade é fundamental para a aprendizagem e para a abertura de nossa mente.
9. É fundamental dar a mesma atenção (no sentido de reavaliar sempre) aos pontos de vista com os quais mais concordamos, isto é, às crenças e pressupostos que nos deixam mais confortáveis, mais acomodados.

Recebi outro dia um artigo através da internet que penso refletir bem este conceito que desejei trabalhar nesta reflexão:

Eu pedi a Deus para remover meu orgulho e Deus disse "Não". Ele disse que não era tarefa dele, mas que era para eu abrir mão. Eu pedi a Deus para tornar meu irmão paraplégico em criança normal, e Deus disse "Não". Ele disse que o Espirito é imortal e o corpo é temporário. Eu pedi a Deus para me dar paciência, e Deus disse "Não". Ele disse que paciência é sub-produto da tribulação, Ela não é dada, é aprendida.
Eu pedi a Deus para me dar felicidade, e Deus disse "Não". Felicidade depende de você. Eu pedi a Deus para livrar-me da minha dor, e Deus disse "Não". Ele disse que o sofrimento nos afasta das coisas mundanas e nos deixa mais perto Dele. Eu pedi a Deus para fazer o meu Espírito crescer e Deus disse "Não". Ele disse que devo crescer por meus esforços, mas que Ele apara minhas arestas para que eu frutifique.
Eu pedi a Deus todas as coisas que me fariam apreciar a vida. Deus disse: Não. Eu te darei a vida, para que você aprecie todas as coisas. Eu perguntei a Deus se Ele me amava, Ele me disse "SIM", agora e sempre. Eu pedi a Deus para me ajudar a amar os outros tanto quanto Ele me ama. E Deus disse: "Ah, finalmente você entendeu !"

Esta é a nossa pregação! Que ninguém a despreze
(Tt 2:15)


Referências bibliográficas:
>Bíblia Sagrada
>Humberto Mariotti – “O automatismo concordo-discordo e as armadilhas do reducionismo”
>Russell Norman Champlin – “Novo Testamento interpretado”


4 comentários:

Anônimo disse...

Oi Fainha!

Adivinha que passou por aqui e foi MUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUITO abençoado por seu dom de escritora/pensadora?

Se advinhar guanha uma visita! kkkk..

Jamais esqueceremos de uma amiga tão maravilhosa como você,

Miiiiiiiiiilll Bjs,

Té a próxima,

Te amamos!

Anônimo disse...

Lindo, Lindo, Lindo!

Vc tá escrevendo bem que só!

Demais hein pastora Fátima!

Hahahahah!

Te amamos muito!

Seu povo aqui de Diadema!

Anônimo disse...

Tesouro!

É o que posso dizer depois de ter lido verdadaes tão ricas e profundas..

Parabéns pra nós!

Grata pastora Fátima

Anônimo disse...

Oi Pastora Fátima

Eu sou a filha da Ana Maria da Silva.
Meu nome é Shirley e adorei ler os textos da senhora... Até levei pra uns amigos da escola...

Deus abençoe a senhora viu!

Fique na paz de Deus

Shirley da Silva