terça-feira, 9 de agosto de 2011

O TALENTO DA PARÁBOLA

O TALENTO DA PARÁBOLA
(Mt 25:14-30; Lc 19:11-28)




As parábolas de Jesus não foram plenamente compreendidas, porém, parece que todos já conseguimos afirmar, sem receio de blasfemar, que não são literais; que agasalham em suas linhas, preciosos princípios espirituais, ocultos das vistas quando de seu primeiro olhar.

O texto da parábola dos talentos diz que o Reino dos Céus é semelhante a um homem que antes de fazer longa viagem, chamou seus servos e lhes distribuiu o seu dinheiro para eles negociarem em sua ausência.

Ao primeiro entregou cinco talentos, que era a moeda corrente na época.  Ao segundo deu dois e ao terceiro um; mandou que fossem negociar até que voltasse da viagem e partiu.

Depois de muito tempo retornou e chamou os três servos para prestarem contas.
Os dois primeiros se apresentaram prontamente e apresentaram os talentos dobrados. O que tinha recebido cinco apresentou dez e o que tinha recebido dois apresentou quatro. Os dois receberam elogios de seu senhor. Foram chamados de servos bons e fiéis no pouco e, por isso, teriam ainda mais benefícios, mais recompensa.

O que havia recebido um talento apareceu, fez um longo discurso tentando justificar sua indolência e devolveu o talento recebido.
Ouviu do seu senhor palavras terríveis:  “-Servo mau e preguiçoso!  Por que não fizeste frutificar o talento que te dei, para que eu o recebesse com juros? Ficarás sem o talento que tens, porque só quem tem receberá mais e terá em abundância; mas quem não tem perderá até aquilo que tem”.

Já ouvi várias interpretações para este texto, porém, a re-leitura que me leva a pensar em Jesus comparando talento com o presente divino que é a nossa vida, a nossa humanidade, e no desejo intenso que Ele tem de que a gente desenvolva, desfrute, seja criativo com este precioso presente que nos deu, aquece mais que as outras, meu coração.

Sendo assim, embora talento no texto refira-se diretamente a dinheiro, na aplicação que Jesus faz passa a significar dádiva, presente. Talento é também salvação, promovida pela auto-realização.
Fomos libertos por Jesus, fomos salvos de uma maneira medíocre de viver e continuamos a ser salvos, na medida em que vamos despertando nossas potencialidades para vivermos com mais inteireza, nossa vida. Quanto mais humanos mais salvos.

A proposta de Cristo sempre foi a de vivermos a plenitude de nossa humanidade com leveza, com criatividade. Para isso, podemos dizer que Deus fez Sua parte: deu-nos o talento que é a vida, juntamente com o livre-arbítrio.

O terceiro servo teria sido, então, duramente criticado porque devolveu ao seu senhor apenas o que dele havia recebido. Com isso, perdeu a recompensa que a aventura de arriscar-se a viver a própria vida lhe proporcionaria.  Não multiplicou o presente de vida recebido, não se aventurou em sua humanidade; teve medo de perder a vida, medo de usar sua liberdade para fazer escolhas, fazendo morrer sua individualidade.  E se o homem, durante o ciclo total de sua existência, não se realizar como indivíduo, se não se integrar no Infinito que é Deus, perde sua identidade, que é sua recompensa.

Por isso é que o homem não sai pronto das mãos de Deus. Tem que aprender a realizar sua natureza humana, aprender a fazer escolhas, relacionar-se com os de sua espécie e dizer como Paulo ao final: “combati o bom combate...” – que combate? O de viver criativamente, sendo plenamente humano e íntegro.

Se o homem se realizar é servo bom e fiel e entra para o gozo do seu senhor quando, humanizando-se, se Diviniza. Se não cumprir o destino de sua embarcação, realizando sua natureza, o homem se apaga, sofre, vive vida sem sentido e desperdiça seus dias, que não são muitos.

Que o melhor de nós se realize plenamente, pois a glória de Deus é o homem desfrutando sua plena humanidade!

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