sexta-feira, 20 de março de 2009

Bem aventurados os que choram!

Fátima Nascimento
Felizes os que choram, porque serão consolados.
Tantas vezes tal verso ouvi...tantas vezes o repeti...
mas tantas outras, em seu real sentido me perdi.
Eis-me chorando tanto sem consolo...por minhas dores...
meus desencantos...meus êxtases...minhas não conquistas.
Temores? Ah! Quantos...a perder de vista!

Quão copiosamente por vaidade choro,
pela roupa nova que não compro,
pela nova ruga que me mostra o espelho.
Céus! E esse novo fio branco no cabelo!
Ah! Como esse tempo cruel me maltrata
insistindo em passar...em marcar..que vida ingrata!

Sofro tanta dor, tanta humilhação
sem um carro novo, sem bens, só com a ambição.
E a minha casa?...rente à rua...
logo eu que sonhava com um apê na cobertura.
Ah! Eu choro...sem consolo, um choro desapontado...
pois nem o menor dos meus sonhos foi realizado.

Afinal, não são felizes os que choram? Pois sei chorar.
Como já chorei! Como choro ainda!
Choro pelos meus anseios, pela dor infinda
de não ter tudo que quero, de não ser tudo que almejo.
Choro de raiva, de tédio, pelo sufocar destes desejos
tão intensos...tão egoístas, mas...tão meus!

E agora, o que é isso que vejo passar rapidamente
neste meu mar de lágrimas denso e tão pungente?
São destroços, cadáveres arrastados pelas enchentes.
Vejo a miséria, a fome, pedaços de gente,
crianças desonradas, sem vida, sem amor.
Por favor, escondam esse quadro - recuso-me a chorar essa dor.

Mas são tantos seres desesperados,
famílias destruídas, filhos bêbados, drogados.
São os sem teto, os sem chão,
são os sem paz, os sem opção.
E esse mendigo que me toca...e com voz serena
tenta consolar-me e me olha com...pena?!?

De mim? Ele? Sinto seu mau cheiro... olho suas roupas...que trapo!
Mas quando encontro seu olhar, percebo quem sou eu de fato.
Livre então das vendas, desabo encurvado
pelo peso medonho de meu horrível pecado.
Pecado da omissão, do desdém, do egoísmo,
pecado de me manter tão alheio ao choro Divino.

E no olhar do mendigo encontro O de Cristo...Aquele dos fracos,
dos abatidos, dos desesperados, dos oprimidos tão castigados.
Mudo então meu choro...eu sei, vou chorar ainda...
porém agora, pelos que perdem eternamente a vida.
Pelos que em pavor imenso vivem à mercê da própria sorte.
Sonho novo sonho... fazer do choro Divino o verdadeiro pranto meu.
Quero aprender a chorar com os olhos e o coração de Deus!





4 comentários:

Anônimo disse...

Qta sensibilidade Teka!!!...
Vc transmitiu com encanto, poesia e beleza uma mensagem de alerta para seus leitores...
Obrigada por nos dar acesso a esse dom q Deus te deu!

Bj

Miguel Garcia - Mi disse...

É isso minha amada! Eis a sua, a nossa vac-ação, somos poetas:

Vaticínios pulsantes...
Evoc-ações de Adônis , Narcisos,
Vênus, Morfos, Afrodites, vedores..
Prognoses apocalípticas
Somos poetas
Meteoros, eclipses, sintomas somáticos,
Somos poetas
Instintos vários, Feitiços, rebate advindo
Navios ronceiros
Prenhes da carga,
Das tropas dos mundos.
Somos poetas
Sécios amantes
Flutuem sonhadores!
Servi-vos de tudo
Da Lua, do Sol
Das chamas e água,
Rochedos e bosques,
Pássaros, peixes,
Do mar...
Deusas terrestres, infantes..
Haja a poesia!
Somos poetas
Ateiem fulgor no poente!
Semeiem dádivas da primavera
Vós fontes de canções perenes,
Traços de luz emanantes;
Somos poetas!
Fundindo o diverso num todo
Vibrando em consonância esplendida
Somos poetas
Nosso infortúnio é dizer coisas ben-ditas!
Somos poetas!

Eu de novo disse...

O Mi-guel botou prá quebrar, heim?
Curvo-me diante dos poetas, diante de tal voc-ação!

Sem pa-Lavras!

Bjs nos 2!

Diana

Pra. Fátima Nascimento disse...

Obrigada meu amado e favorito poeta!!

Temo, porém, que o vate que vês em mim, sejam apenas pequenos respingos do fulgurante vate que habita em ti!

bjo.