terça-feira, 24 de novembro de 2009






COISA DE MENINO!
Fátima Nascimento





FUTEBOL É COISA DE MENINO!!! Dessa maneira, alto e em bom tom, era proferido o ultimato enfurecido, porém bem intencionado, desferido por minha irmã mais velha na minha direção, sempre que me flagrava encantada e seduzida por aquele folguedo, até então, de fato, considerado impróprio para mocinhas de família.

Minhas manas eram como profetizas denunciando pecados nacionais. E eu, pobrezinha, ficava sem entender nada de coisa alguma (ou resistia ferrenhamente a tal entendimento).

Era assim com o futebol. Os meninos chamavam aquela animada e divertida brincadeira de “pelada” – o que ajudava a piorar a situação, pois em minha meninice, mocinhas de família - meninas recatadas e educadas, não brincavam sozinhas com meninos, não usavam modelitos masculinizados, não se assentavam na rodinha dos moleques escarnecedores (se bem que eles eram endiabrados mesmo). Brincar num jogo com nome tão sugestivo então, nem pensar - quero dizer, em minha infância, meninas não jogavam futebol, nem “peladas” nem vestidas.

De quase nada adiantou tanta proibição. Consegui preservar a “castidade” e o bom nome da família, porém cresci amando, jogando, assistindo, vibrando e torcendo muito pelo futebol – fosse de campo, de salão, de várzea, fossem até as muitas peladas que assisti e joguei na vida...

O que me faz pensar, rindo baixinho, que muito antes que o Paulo judeu existisse pra mim, minhas irmãs e a cultura machista patriarcal da cidade onde nasci já eram!

Estou escrevendo depois de vibrar muito pelo time do coração neste brasileirão, e ainda depois de findo o jogo, ter zapeado incessantemente, na busca frenética por outros jogos – como escreveu o Eduardo Galeano em seu livro FUTEBOL AO SOL E À SOMBRA:

“Assumi minha identidade - não passo de um mendigo do bom futebol. Ando pelo mundo de chapéu na mão, e nos estádios suplico:
- Uma linda jogada, pelo amor de Deus!
E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre – sem me importar com o clube ou o país que o oferece”.

Futebol não é apenas coisa de menino...futebol é coisa pra quem ama o futebol e ponto final! Assim como ministério pastoral e tantos outros, não são coisas apenas de homens...são coisas pra quem ama o Reino de Jesus e ponto final!

Se Paulo pudesse dar uma espiadela na vida em nosso tempo e contemplar quão grande força as mulheres representam na igreja, nos campos missionários, no cenário universal da vida - e se pudesse ouvir alguns eruditos cientistas demonstrarem que as mulheres não são intelectualmente inferiores aos homens... alegrar-se-ia por certo. Celebraria a queda de muita barreira cultural, pelo menos em alguns espaços religiosos, nesse tropical País do futebol.

Se, além disso, pudesse ouvir algum sábio biólogo provar que, exceto no campo da força física (e em muitos casos nem aí), a mulher é fisicamente superior ao homem; e se pudesse ouvir notáveis teólogos e místicos demonstrarem que a mulher, por natureza, é mais intuitiva e, na realidade, mais espiritual que o homem, muito provavelmente sentir-se-ia 'tentado' a fazer uma releitura das muitas coisas que escreveu.

Como bom técnico que foi, escalaria todas as beldades de sua época, o que certamente criaria o Dream Team da igreja primitiva.

Que ninguém vá imaginar que eu nutra ressentimentos, ou mesmo rejeite previamente, o conjunto de idéias do apóstolo dos apóstolos. Afinal, por qual razão pensaríamos que algumas atitudes de Paulo não podem ser re-lidas e re-significadas?

Por que não pensaríamos que parte de seus ensinamentos não poderia ter sido colorido por costumes culturais locais, pela mentalidade antiga? As escrituras não foram escritas em um vácuo, e necessariamente foram coloridas em algumas instâncias, por tais fatores.

Contudo, na Bíblia rebrilha a verdade do Senhor Deus, ensinando com autoridade, tudo quanto é necessário para uma existência piedosa, humana e livre: “Tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, puro, amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas. Ponham em prática tudo o que vocês aprenderam, receberam, ouviram e viram em mim. E o Deus da paz estará com vocês".
Cl 4:8,9

Então, a verdade salta aos olhos e enche a mente e o coração, quando o amado Paulo escreve em Gl. 3:26: “Desse modo não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”.

Com essa declaração o apóstolo se redime aos meus olhos e escapa de meu desejo de, encontrando-o, encostá-lo “amorosamente” na parede celestial, olhá-lo nos olhos e dizer: Hei, Pregador - lembra da parábola do rico e de Lázaro: pobre e faminto na terra, rico e saciado no céu? Pois é, nós mulheres, pobres, famintas e discriminadas na terra, porém maioria esmagadora aqui no céu, estamos pensando seriamente em propor e votar a favor do mutismo eterno dos homens por aqui - o que você acha disso heim?

Nenhum comentário: